Mélanie e Maximin se encontravam nesse
momento num local mais alto, e foram
descendo, de início intrigados e depois
maravilhados. Maximin continua:
“Embora estivéssemos a uma distância de
uns vinte metros, ouvimos uma voz doce,
como se saísse de uma boca próxima de
nossos ouvidos, que dizia:
– Avançai meus filhos, não tenhais medo.
Estou aqui para vos anunciar uma grande
notícia.
O temor respeitoso que nos tinha contido
desvaneceu-se. Corremos até ela, como
indo a uma boa e excelente mãe”.
Mélanie sempre foi mais meticulosa nas suas
descrições. Deixou registrado com mais
pormenores o que viu e ouviu. Ela conta:
“O vestido da Santíssima Virgem era branco
prateado e todo brilhante. Não tinha nada
de material, estava composto de luz e de
glória variante e cintilante.
“Na terra não há expressões nem
comparação para usar. (...)
“A Santíssima Virgem tinha um avental
amarelo. Por que digo amarelo? Ela tinha
um avental mais brilhante que muitos sóis
juntos.
“Não era de um pano material, estava
composto de glória, e esta glória era
cintilante e de uma beleza encantadora.
“Tudo na Santa Virgem me atraía
poderosamente e me inclinava a adorar e a
amar meu Jesus em todos os estados de
sua vida mortal.
“A coroa de rosas que ela tinha sobre a
cabeça era tão bela, tão brilhante, que não
dá para se fazer uma idéia. As rosas de
diversas cores não eram da terra.
“Era uma reunião de flores que rodeava a
cabeça da Santíssima Virgem com forma de
coroa. Mas as rosas mudavam e se
substituíam, porque do centro de cada rosa
saía uma luz tão bela, que fascinava e
tornava as rosas de uma beleza
esplendorosa.
“Da coroa de rosas subiam raios de ouro e
uma grande quantidade de outras florinhas
misturadas com brilhantes. O todo formava
um belíssimo diadema, que brilhava
sozinho mais do que nosso sol na Terra.
Os sapatos (pois é preciso dizer sapatos)
eram brancos, mas de um branco prateado,
brilhante. Havia rosas em torno deles.
“Essas rosas eram de uma beleza
fulgurante. E do centro de cada rosa saía
uma chama de luz muito bonita e muito
agradável de se ver. Sobre os sapatos
havia uma fivela de ouro, não do ouro da
Terra, mas de ouro do paraíso”.
Mélanie contou que Maximin tentou pegar uma
destas rosas que estavam sob Nossa Senhora,
mas nada conseguiu.
“A Santa Virgem tinha uma belíssima cruz
pendurada no pescoço. Essa cruz parecia
ser dourada, mas digo dourada para não
dizer que era folheada a ouro (...).
“Sobre esta cruz brilhantíssima havia um
crucificado. Era Nosso Senhor com os
braços estendidos sobre a cruz. Quase nas
duas extremidades da cruz, de um lado
havia um martelo e do outro uma torquês.
“A cor da pele do crucificado era natural,
mas brilhava com grande fulgor. E a luz
que emanava de todo seu corpo parecia
dardos brilhantíssimos que perpassavam
meu coração de desejo de me fundir n’Ele.
“Por vezes Cristo parecia morto. Ele tinha a
cabeça inclinada e o corpo estava afastado,
como a ponto de cair, se não fosse retido
pelos pregos que o seguravam na cruz.
“Outras vezes Cristo parecia vivo. Tinha a
cabeça erguida, os olhos abertos, e parecia
estar na cruz por vontade própria. E em
algumas ocasiões parecia falar”.
Geralmente interpreta-se o martelo como
símbolo daqueles que pela sua má vida, pelo
menosprezo da Lei divina e até pelo ódio,
pregam ainda mais Nosso Senhor Jesus Cristo
na cruz.
Nesta concepção a torquês representa aqueles
que, pelas suas boas ações, diminuem as dores
de Nosso Senhor, e dentro de suas
possibilidades tentam despregá-lo da cruz.
“A Santíssima Virgem – lembra ainda
Mélanie – tinha duas correntes, uma um
pouco mais larga que a outra. Da mais
estreita estava pendurada a cruz à qual me
referi.
“Essas correntes (é preciso dar-lhes o
nome de correntes) eram raios de glória de
grande brilho, que não é fixo mas
faiscante”.
Os videntes desceram logo a pouca distância que
os separava da Dama.
Ao mesmo tempo Nossa Senhora se pôs em pé e
deu alguns passos em direção às crianças.
Ela pairava uns 10 centímetros acima da relva, e
começou dizendo:
“Vinde meus filhos, não tenhais medo, estou
aqui para vos anunciar uma grande notícia.
“Se meu povo não quiser se submeter, fico
obrigada a deixar o braço de meu Filho
golpear.
“Ele é tão pesado e tão grave, que não
posso mais segurá-lo.
“Há muito que sofro por vossa causa. Se
quero que meu Filho não vos abandone,
estou obrigada a rezar a Ele sem cessar,
por vossa causa.
Mas vós não fazeis caso”.
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